Não se sabe ao certo como encontraram Coxinha da Silva.
Muito provavelmente foram os motores de busca, que escarafuncham a vida de
qualquer um hoje em dia. Alguém deu um google para saber qual era o significado da
palavra “coxinha” e chegou naquele perfil no Facebook. Acabaram descobrindo que
o cidadão era o maior coxinha de São Paulo – e, por conseguinte, do mundo.
Ainda não fez 40 anos. E não sai
mais de casa desde que implantou-se, segundo ele, um governo marxista no
país. Desde então, como sempre diz, prefere “não interagir muito”.
Como tem recursos, comprou o que
é básico na vida de um coxinha: uma academia de ginástica doméstica onde passa
grande parte do dia se rasgando diante de espelhos e pesos. Graças à
internet também pode adquirir roupas, calçados e perfumes, sem sair de casa.
Usa o figurino importado, muito bem engomadinho, nas baladas que promove no
salão de festas do seu open space na
Vila Nova Conceição.
Coxinha da Silva logo ganhou
notoriedade na mídia. Hoje tem mais de três milhões de seguidores no twitter e
seu instagram é tão visitado que, em horários de pico, dá pau na sede da
empresa em São Francisco.
Vários diretores de cinema vêm
tentando convencê-lo a atuar num longa metragem, mas ele é tão individualista
que não consegue falar com os diretores, quanto mais com atores (“todos uns
petralhas ateus”).
O isolamento radicalizou-se ainda
mais depois que foi obrigado, um dia, a se misturar socialmente. Estava
voltando de uma visita ao personal trainer quando o carro pifou em plena Avenida
Paulista. Vendo-se naquela enorme via pública, em meio a todo tipo de gente,
desmaiou. Apavorado, seu motorista o acudiu e tentou chamar um táxi. Chovia a
cântaros e ninguém parava. Com a ajuda de alguns motoboys, levaram Coxinha da
Silva para uma estação do metrô. Quando acordou estava naquele túnel horroroso,
sujo e rodeado de pobres: o esgotamento nervoso consumiu oito meses de
tratamento psiquiátrico.
Por causa de sua posição
fundamentalista, Coxinha da Silva virou uma espécie de referência do
politicamente correto global. Personalidades, artistas e políticos de partidos
conservadores buscam um diálogo com sua pessoa e veem em suas opiniões um
bálsamo à nova direita.
Dia desses, Marine Le Pen,
presidente da Frente Nacional francesa, lhe telefonou.
- Peçam pra esperar, estou na
outra linha com o Lobão – ordenou ele.
Depois de 15 minutos, finalmente
a atendeu.
- Como vai, monsieur
Coxinhá? Satisfação saber que existe alguém como você num país tão importante
como o Brasil – elogiou Marine, animada.
- Só porque é francesa, pensa que
eu lhe pago pau? –exasperou-se Coxinha.
O tradutor juramentado tentava
explicar o que era “pagar pau” à maior representante da extrema direita da
França.
- Quê é isso, Coxinhá? Nós é que
pagamos pau para você, mon cher! – respondeu a francesa.
- Pode ser, Marine. Mas, pra mim,
o Berlusconi é bem mais top.
Autor: Carlos Castelo
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/blogs/cronica-por-quilo/coxinha-da-silva/