A revolução Industrial deve ser entendida como a
generalização das formas de produzir, pesar e agir e abrange a modernização de
todos os setores da sociedade. Trata-se de um lado, das transformações
econômicas resultantes da expansão do capitalismo e do outro das transformações
políticas provocadas pela ascensão ao poder das classes burguesas. Deve-se
lembrar ainda, as transformações sociais (definição de novas classes sociais) e
culturais (novos modelos de comunicação) – paralelamente a essas modificações
desenvolve-se a “transição demográfica” que duraram várias décadas. Quer dizer
a passagem de uma situação de altas taxas de natalidade, fecundidade e
mortalidade para baixas taxas.
Essa transição, nos países atualmente mais desenvolvidos,
coincidiu cronologicamente com a intensificação dos processos de
industrialização e de urbanização e também, com as importantes modificações no
plano político e no campo cultural. O intervalo entre as duas situações
demográficas mencionadas caracterizou-se por uma intensificação do crescimento
populacional. Isto ocorreu graças à queda das taxas de mortalidade, mantendo-se
elevada a natalidade/fecundidade.
Tomando-se como exemplo clássico a Inglaterra, mas podendo
generalizar para outros países desenvolvidos, guardadas as especificidades,
observa-se que a burguesia apresentava três grandes segmentos: agrária,
comercial e industrial, essas duas ultimas com interesses semelhantes. A
burguesia agrária tem o poder político. A burguesia urbana (comercial e
industrial) tem o poder econômico. Quem tem o poder econômico deseja o
político, para poder garantir e ampliar o poder econômico.
Estabelece-se, assim, um conflito ideológico. O que a
burguesia agrária deseja é deter o avanço do liberalismo econômico (que está
arruinando, devido à concorrência com a produção externa), doutrina sustentada
pela burguesia urbana.
Como a base econômica da burguesia urbana era a exploração
da crescente mão-de-obra assalariada, um representante da burguesia agrária –
Thomas Malthus – passa a criticar a expansão populacional para, assim, atacar a
sustentação da burguesia urbana.
Assustado
e preocupado diante da crescente proletarização da sociedade inglesa, Malthus
defendeu a tese de que a pobreza era natural e que as reformas sociais
serviriam apenas para incentivar o desenfreado crescimento da população pobre.
Era necessário reduzir o ritmo de crescimento da população através do controle
da natalidade.
Para isso Malthus, propôs o casamento tardio, sempre
pensando em diminuir a pobreza ao diminuir o número de pobres. Dizia que a
reprodução natural da população se dava numa progressão geométrica enquanto os
meios de produção cresciam em progressão aritmética, o que, ao fim de pouco
tempo, acarretaria a falta de alimentos para todos.
É claro que malthus não poderia prever que o
desenvolvimento técnico – cientifico ao longo do século XIX mostraria que suas
previsões pessimistas não se confirmariam. As novas tecnologias agrícolas
levaram a uma maior produtividade do solo. Por outro lado, o desenvolvimento
econômico pelo qual passou a sociedade inglesa (e logo o resto da Europa)
conduziu a um declínio do crescimento demográfico.
Não devemos nos esquecer que tudo
isto acontecia na virada do século XVIII para o XIX, poucos anos após a
Revolução Francesa cujas idéias se difundiram entre o proletariado das cidades
inglesas. Com medo de que ocorresse na Inglaterra o que havia acontecido na
França, as idéias de Malthus acabaram rapidamente sendo incorporadas à
ideologia conservadora das classes dominantes. Se a burguesia tinha medo do
crescimento da população, por outro lado, necessitava desse crescimento.
Já por volta de 1830, está claro
para a burguesia urbana que ter muita população é vantajoso (mão-de-obra e
mercado) e com a exploração do trabalho e as precárias condições de vida se
mantinham inalteradas, dois movimentos começaram a se definir. O primeiro por
parte dos trabalhadores que, organizados em sindicatos, começaram a reclamar
melhores salários e melhores condições de trabalho. Em 1833, na Inglaterra,
estabeleceram-se as primeiras leis sociais e, nos EUA, em 1832, houve uma série
de greves gerais reivindicando os “3 oito” – oito horas de trabalho, oito horas
de estudo ou lazer e oito horas de repouso – direito só generalizado um século
mais tarde, depois de muitas lutas como as rebeliões operárias que ocorreram em
1848 por toda a Europa e outras posteriores.
O segundo movimento foi do Estado
(dominado pela burguesia industrial) que passou a fixar normas para a
exploração dos trabalhadores, como por exemplo: a idade de 13 anos para começar
a trabalhar, a duração da jornada de trabalho, alguns direitos especiais à
mulher-trabalhadora-mãe. O Estado passa a participar, cada vez mais da
reprodução dos trabalhadores e, gradativamente, ao longo de um século vão sendo
concedidas pensões, aposentadorias, salário-família, salário-desemprego, além
de serviços gratuitos, principalmente no campo da educação, saúde e saneamento.
É bom lembrar que grande parte dos recursos para estes benefícios sai do
próprio trabalhador através dos impostos que paga.
Em meados do século XIX, Karl Marx
desponta como um dos maiores contribuintes ao debate econômico-demográfico. Com
suas obras escritas.
Marx denuncia a forma como se dá a
exploração do trabalho no capitalismo. Demonstra que, sem que o operário se dê
conta, o seu tempo de trabalho é dividido. Na primeira parte produz o valor
investido pelo capitalista, na segunda produz um excedente. Na primeira parte
produz o equivalente ao salário de sua subsistência. Na segunda um lucro para o
capitalista.
Denuncia ainda que o capitalismo
mantém os salários baixos e muitas vezes, no mínimo, graças a existência do
exercito industrial de reserva (a massa de trabalhadores desempregados) que é
ampliado ou reduzido de acordo com a conjuntura do desenvolvimento capitalista.
Somente se o exército industrial de reserva for suficientemente grande, é que o
capitalismo tem possibilidade de controlar as pretensões salariais dos
trabalhadores e de manter a mais-valia no nível desejado pela continuidade do
processo de acumulação. O crescimento do processo de reserva depende,
fundamentalmente da atuação de fatores econômicos, como a ocorrência de crises
ou como a modernização da agricultura.
Marx acha que a economia é quem deve
adaptar-se às necessidades da população e não ao contrario, como defendem os
partidários do controle do crescimento demográfico.
Num contexto de lutas e de
organização crescente, a classe operária, ao longo da segunda metade do século
XIX, foi conquistando o direito de manter em casa a mulher e os filhos, o que
significou melhoria dos salários e das condições de vida. Forjava-se aí a
ampliação e o fortalecimento da classe-média.
A mortalidade já vinha se reduzindo
há décadas e agora com a elevação do custo de formação do individuo, ocorre uma
redução da natalidade e uma diminuição do crescimento vegetativo.
Em conseqüências da elevação dos
salários a burguesia capitalista, para não ter seus lucros diminuídos, procura
alternativas.
Essa situação econômico-demográfica
manteve-se, sem grandes alterações, ao longo do século XX. Como a natalidade
foi se reduzindo cada vez mais, evidenciou-se um crescente envelhecimento da
população nos países desenvolvidos, com conseqüente redução da mão-de-obra e
encarecimento desta. Para manter as taxas de lucro, esses países passaram a
importar trabalhadores estrangeiros e a exportar capitais e indústrias para os
países subdesenvolvidos. Busca-se com isto, manter sob controle os salários sem
criar atritos com o forte movimento sindical.